RELATÓRIO DE VIAGEM: II CICLO DE ESTUDOS “O SERTÃO TEM HISTÓRIA”.
Jéssica Dos Santos Souza
O professor da disciplina Sergipe II (Antônio Lindivaldo Souza), juntamente com seu grupo de estudo(GPCIR), organizou II Ciclo de Estudo “O Sertão tem Histórias”, que ocorreu entre os dias 26 e 27 de Janeiro de 2013, proporcionando maior conhecimento sobre mitos e religiosidade do Sertão Sergipano. Por meio da viagem aos municípios de Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Gloria, Poço Redondo e Monte Alegre, conhecemos pessoa considerada comum, que não tem uma vida conhecida na mídia, as quais retrataram histórias ou possíveis mitos ali existentes, como um dos mais conhecidos: “O Lobisomem do bem”, que tem como personagem João Valetim. Se destacando também A cavalhada, representando a luta entre Cristãos e Mouros, realizada nos os dias 01 a 03 de maio. (Figura1)
Figura 1 Alunos de Sergipe II, monitores e grupo da terceira idade da Universidade Federal de Sergipe, pesquisadores trabalhando com a Cultura Sertaneja.
OBJETIVO
Visitar o Sertão e compreender o tema da viagem “O Sertão Tem História”, por meio de lendas, mitos e a cultura religiosa ali presente, quebrand estereótipos, como o sertão da seca, onde nada que se planta dá e conhecendo melhor a micro-história, contada por pessoas comuns, tidas muitas vezes como anônimas em relação à História. Outro fator não menos importante foi se envolver com varias culturas ali presente, tais como a Cavalhada, os penitentes, a lenda do lobisomem...
PESQUISA
A viagem teve inicio a partir das 6:00 da manhã de sábado (26/01) com destino a Nossa Senhora das Dores, onde por voltas das 8:30 fizemos visita técnica a igreja Paroquial, localizada em uma das praças do centro da cidade, teve sua construção iniciada no ano de 1925, onde antes em seu lugar existia presença de um cemitério. Antes da estrutura atual, a paróquia era apenas uma pequena capela devota de Nossa Senhora das Dores. Por meio da visita técnica podemos apreciar sua arquitetura e sua pintura, muita rica por sinal. (Figura 2)
Figura 2 Frente da Paróquia Nossa Senhora das Dores
Figura 3 Placa da Paróquia Nossa Senhora das Dores
Em seguida nos deslocamos para um espaço, onde foi realizada aula pública para melhor conhecermos a cultura religiosa da cidade de Nossa Senhora das Dores.
Iniciando com a professora Magneide, que teve sua monografia voltada para o tema Os Penitentes, explicando sobre o mesmo. Essa festa religiosa-cultural se realiza a cada ano e era como muitas outras não aceitas pela religião cristã, onde com passar dos anos se adequando as doutrinas do catolicismo, permitiu-se sua participação na igreja. Durante toda Sexta-Feira da Paixão, os Penitentes percorrem as ruas da cidade, entoando preces e cânticos na intenção das almas pecadoras em busca de paz.
Esse movimento cresceu bastante com a permissão e o ingresso de pessoas com menos de dezoito anos, o que antes não era possível. A divulgação dessa procissão foi outro fator importante para atrair novos participantes e a manter permanência dos antigos. (Figura 4)
Figura 4 Apresentação da professora Mageneide.
Grupo que já chegou ter mais de 700 integrantes, Os Penitentes, que tem sua devoção realizada principalmente no período da quaresma, contando apenas com a participação dos homens. Utilizam-se capuz e túnica de cor branca, cobrindo o rosto e o corpo, uma forma de não serem identificados ou de pura devoção. A centenária procissão adquiriu sentido religioso por conta das promessas de pessoas da cidade que viam no sacrifício, considerado o modo mais correto de agradecer as graças alcançadas. (Figura 5)
Figura 5 Apresentação do grupo Os Penitentes.
Em seguida toma a fala o Professor João Paulo, abordando o Município de Nossa Senhora das Dores, juntamente com a religião ali existente cristã, fundamental para crescimento do município, a qual não aceitava até recente a presença dos penitentes na igreja. Mostrou além destes, outros grupos não menos como Cruzeiro do século, Madeiro e Senhor Morto. (Figura 6)
Figura 6 Apresentação do professor João Paulo
Após fomos desfrutar da culinária sertaneja, nos deslocando em seguida para Nossa Senhora da Gloria, conhecendo o alojamento onde seria mais tarde realizada apresentação do Sarau.
Dando inicio a partir das 20:30, o professor Dr° Antônio Lindivaldo fala sobre João Valentim, homem simples que teve 8 filhos, trabalhava com o couro, se dizia curandeiro, tinha como profissão : vaqueiro. Conhecedor da comunidade de Nossa Senhora da Gloria e proximidades, dizia-se virar em lobisomem nas formas de cachorro ou gato preto, amedrontando ou atacando os sertanejos durante a noite. Transformava-se em bicho por ser o 7° filho da família não batizado. Muitas vezes se dizia-se protetor das pessoas, daí sua fama de lobisomem do bem. (Figura 7)
Figura 7 Apresentação do Professor Antônio Lindivaldo Souza.
Convidado a participar do evento, tivemos também a presença do professor Ulder Celestino, apresentando o tema Relações com o passado: A experiência da arte de “Veio” e a literatura do tempo pela história.
Cícero Alves dos Santos, conhecido como Veio, nascido por uma parteira de nome Madalena. Foi artista, conhecido nacionalmente e internacionalmente por meio de esculpir esculturas em madeira, chegou a ganhar prêmios inclusive no livro dos recordes Guinnes book. Colecionador de cartazes, livros voltados para temas da sua terra “O Sertão”. Cícero ou mais conhecido como Veio se envolve com escultura feitas em madeiras de diferentes formas e tamanhos, as quais sempre retratam sua terra: animais, o gado, o homem acompanhado da enxada, coisas presente no Sertão de Sergipe. (Figura 8)
Figura 8 Apresentação do professor Ulder
Dando sequencia inicia com abertura musica ygor Araújo, cantando e encantando alunos ao som de MPB. (Figura 9)
Figura 9 Apresentação musical de Igor Araújo e Madson Rosario.
Tivemos a presença de uma banda que animou a noite ao som de forró pé de serra, entoando repentes e ritmo de vaquejada, fazendo o pessoal dançar e interagir, pois todos não eram da mesma turma... e mostrando assim um pouco da cultura musical ali existente.(Figura 10).
Figura 10 Banda Forró Pé de Serra.
No dia seguinte, domingo 27/03 fomos com destino a Monte Alegre presenciar por meio de relatos a história de João Valetim.
Inicialmente conversamos com Cícero de Souza que abordou características físicas tais como, João Valetim possuía de estatura baixa, aparência não muito higiênica, nascido em Aquidabã, foi o sétimo irmão que por não ser batizado virava-se em lobisomem, percorrendo 7 freguesias transformado em lobisomem nas formas de cachorro ou gato preto. (Figura 11)
Figura 11 Fala de Cícero.
O mesmo nos levou até a casa seu Heloí, divergindo de Cícero afirma que João Valetim nasceu em Maruim, narrando também características físicas falando basicamente o mesmo que Cícero.
Após momento de dialogo com os agentes da micro-história fomos até a Rua Pão de Açúcar conhecer a residência onde morou João Valemtim, hoje atual casa de seu Ariston que afirma dizendo que Valetim viveu por mais de 20 anos ali, trabalhando como agricultor, possuidor de uma saúde frágil, sendo o que impossibilitava de beber muito, uma das coisas que gostava de fazer.
Seguindo, fomos para Poço Redondo no povoado Sítios Novos, presenciar a Cavalhada, conversando antes com Geno Vitor para melhor entender o que representava a Cavalhada e a Capela a qual foi aberta para conhecermos internamente.
Falando sobre as possíveis criações da capela, se destaca a morte de um homem que ao descansar embaixo da árvore com ouro, tentam roubar, sendo morto e em homenagem a este homem ergueu-se a capela denominada Cruz dos Homens, existente e preservada até os dias atuais por uma senhora que prometeu cuidar dela até os últimos dias de sua vida se Deus concedesse a benção do seu aposento. (Figura 12)
Figura 12 Capela Cruz dos Homens.
Na parte interna da capela, Geno Vitor fala um pouco sobre a cultura presente e que resiste até o presente momento, o Aboio e a Tuada mostrando a diferença entre ambas que aos olhos de quem não tem conhecimento sobre passam como a mesma coisa. (Figura 13)
Figura 13 Apresentação da banda de pífanos.
Em sequencia Vitor apresenta a Cavalhada, a qual acontece entre os dias 01 a 03 de maio, mostrando sua representação juntamente com o professor da disciplina, explicando que essa cultura representa a luta dos Cristãos contra os Mouros ou infiéis, onde os que estão com vestes azuis representam os cristãos e os de vestimentas vermelhas representam o profano ou os mouros. Estando os grupos divididos em 2 filas com 7 cavalheiros, representantes de cada lado, onde é o maquinador chefe que da as ordens para os demais seguir. (Figura 14)
Figura 14 Indo para batalha.
Figura 15 Apresentação do grupo Cavalhada.
Também tivemos a honra de conversar com outros agentes da micro-historia, os quais proporcionaram melhor conhecimento sobre a região, se destacando, Luiz Custódio, Zé da Pedra, e outros.(Figura 16)
Figura 16 Agentes da micro-história.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Ciclo de viagem O Sertão tem História realizado pela disciplina História de Sergipe II, foi de fundamental importância para aprimoramento e compreensão da identidade sertaneja, permitindo a quebra de estereótipos.
Por meio da viagem podemos observar histórias isoladas, que estão relacionadas com nosso cotidiano, principalmente quando criança, onde familiares ao reunir-se contam relatos da existência e perseguição de lobisomens, mulas sem cabeça, saci, visto que em outros lugares também existe essas cultura da presença de seres sobrenaturais como o lobisomem João Valentim.
A viagem também proporcionado observação da cultura religiosa Calhada existente até os dias atuais, onde foi permitido notar a preparação desde os primeiros momentos, como se enfeita os cavalos até as vestimentas dos cavalheiros, e movimentos realizados por eles ao tentar atingir o alvo com a lança, fazendo crescer o nível de aceitação cultural do outro, do diferente e maior aproximação e desejo de querer que permaneça viva a cultura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Memórias, Patrimônios e Identidade/ João Paulo de Carvalho, Luis Carlos de Jesus e Manoel Messias Moura. Nossa Senhora das Dores(SE): Associação de Incentivo à Pesquisa e à Cultura”Nossa Senhora das Dores dos Enforcados”, 2012.